Câmera Record mostra quem está por trás da indústria das armas no Brasil
Câmera Record mostra quem está por trás da indústria das armas no Brasil e por que a maior fabricante de armamentos do país, a Taurus, está na mira do Ministério Público Federal.
Armas que falham em situação de risco. Pistolas que disparam rajadas, como se fossem metralhadoras. Policiais com armamentos que não funcionam. Em 19 dos 27 estados do país, as polícias se queixam de problemas recorrentes nas armas usadas por quem patrulha as ruas. Mas o que tudo isso tem a ver com o fato de uma única empresa dominar o mercado de armas no Brasil?
Segundo a procuradora Lívia Tinôco, do MPF em Sergipe, a existência de um monopólio, em que uma só empresa detém 80%, 90% de um mercado relevante, trouxe problemas sérios e recorrentes para as forças de segurança de muitos estados.
Por isso, uma ação civil pública aberta pela procuradoria do Estado pede, além do recall dos dez modelos de armas defeituosos da Taurus, uma indenização por danos morais coletivos no valor de 40 milhões de reais.
“Tivemos relatos de muitos casos graves, pessoas que tiveram que fazer cirurgia, se tornaram inválidas permanentemente, e até de vidas perdidas por causa desses acidentes gerados”, aponta a procuradora.
No processo, os procuradores também sugerem a necessidade de uma mudança na lei para permitir que empresas estrangeiras possam fornecer armas às forças de segurança brasileiras.
O Câmera Record também abre espaço para especialistas debaterem sobre a flexibilização do acesso às armas no país. Segundo estudiosos no assunto, a abertura do mercado brasileiro para indústria armamentista estrangeira ajudaria a ampliar a discussão em torno do tema.
Para isso, grupos favoráveis ao maior acesso às armas para cidadãos comuns cobram mudanças no Estatuto do Desarmamento.
"O Estatuto do Desarmamento sempre foi concebido de uma forma totalmente equivocada. Com aquela ideia de que a circulação e venda legal de armas é o que trazia o impacto negativo, principalmente nos crimes violentos. E, ao longo desses anos, mais de uma década, ele mostrou exatamente o contrário. Tivemos um crescimento nos crimes violentos, homicídios. Teve um aumento na utilização de armas de fogo nos assassinatos, diz Benê Barbosa, especialista em segurança.
O deputado Eduardo Bolsonaro também defende o direito dos cidadãos comuns terem acesso às armas.
“O problema não está na arma fogo. O problema está na cabeça de cada pessoa. Às vezes, aparece no jornal: a arma disparou várias vezes e matou X pessoas. Não foi uma arma que matou, foi uma pessoa. Nada melhor para evitar um bandido armado do que um cidadão de bem armado.”
Ter uma arma é permitido no Brasil. Mas o Estatuto do Desarmamento, regulamentado em 2004, estabeleceu regras. A licença para a posse de uma arma é condicionada a uma série de requisitos: só podem comprar armas e munições pessoas acima de 25 anos e que tenham feito curso para manejar armamentos. E é preciso comprovar a necessidade de ter uma arma, o que torna o acesso muito difícil.
Antônio Rangel Bandeira é um dos idealizadores do Estatuto do Desarmamento. Ele vê com cautela a intenção de flexibilizar o acesso às armas no Brasil.
"É um nome inadequado, porque a lei não proíbe de ter arma, a lei controla arma. Ela estimula, sim, que as pessoas não se armem. O Estado compra a arma de quem não deseja ter arma, mas é uma lei de controle e muito avançada. Essa lei produziu efeitos impressionantes", argumenta Rangel.
Os repórteres também mostram como funciona o tráfico internacional de armas na fronteira do Brasil com o Paraguai, uma das principais portas de entrada de armamentos no país. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), esse mercado clandestino movimenta em todo mundo mais de cinco bilhões de reais por ano.
O Câmera Record é exibido aos domingos, a partir das 23h15.