Repórter Record Investigação acompanha a rotina de quem depende da pesca do sururu

Quinta, 21 de Janeiro de 2021

Repórter Record Investigação desta quinta (21) acompanha a exaustiva jornada de trabalho de adultos e crianças que dependem da pesca de um marisco pouco conhecido no Brasil: o sururu

Durante 16 dias, os jornalistas Marcus Reis, Laura Ferla, Aline Bertoli e Gilson Fredy registraram o dia a dia dos chamados 'sururuzeiros' na lagoa do Mundaú, em Maceió, Alagoas. Dos mergulhos em meio à escuridão ao calor dos fornos improvisados para cozinhar o marisco.

Uma realidade de pobreza, exploração e discriminação

São mais de 1.500 famílias que trabalham em condições degradantes na cadeia produtiva desse pequeno molusco. O sururu tem cerca de três centímetros e cresce agarrado ao fundo da imensa lagoa.

Os mergulhadores

Enquanto muitos dormem, pescadores se arriscam em mergulhos na mais completa escuridão. Procuram pelo sururu. Antes de chegar aos pratos como uma iguaria nordestina, o marisco passa por dezenas de mãos. E deixa para trás um rastro de lama e miséria. Para pegá-lo nas águas contaminadas da lagoa, chega-se à exaustão.

"Se fosse por mim, eu não trabalharia com isso aí. Eu não sonhava com isso pra minha vida", lamenta José Silvio, um jovem de 21 anos que cata sururu desde os sete.

As despinicadeiras

As mulheres são as encarregadas de limpar o molusco. Elas representam quase 70% de toda mão de obra na cadeia produtiva. Apesar de serem maioria, são as que menos ganham. Pegam no pesado das 7h da manhã até às 22h para ganhar, em média, 300 reais por mês. Como recebem por produção, precisam ser rápidas. Eleonora acumula 38 anos de experiência."Comecei a trabalhar com sururu aos nove para dez anos. Nunca gostei. Mas não tem o que fazer, né?", pondera.

De tanto repetir os mesmos movimentos por várias horas sem descanso, revela que tem dores musculares e inflamações como tendinite. "Os braços têm hora que adormecem, a gente sente como se fosse o começo de um AVC", explica.

Após despinicar o molusco, as mulheres precisam cozinhá-lo, para abrir as conchas. E depois, peneirar. Calor, fogo, fumaça. Esforço que esgota só de ver.

"Não é sutentável esse tipo de trabalho, não é digno que essas pessoas permaneçam nessas condições de trabalho", afirma Maria Claúdia Mello Falcão, coordenadora do combate ao trabalho escravo e trabalho infantil da Organização Internacional do Trabalho, a OIT.

As crianças

O Brasil tem hoje quase dois milhões de crianças e adolescentes com idade entre cinco e 17 anos que trabalham, mas não deveriam, segundo o IBGE. Na processo de trabalho do sururu, meninos e meninas se expõem a riscos e comprometem o futuro para ajudar a família a sobreviver. Trabalhar desde muito cedo, sem direito a brincandeiras, é comum na Lagoa do Mundaú. Quase 20% da mão de obra é de menores.

Encontramos mãos pequenas já muito ágeis, como a de uma menina de apenas sete anos."Eu aprendi a limpar sururu faz tempo. Eu tinha cinco anos. Ganho dois, três, quatro reais por dia". Dinheiro para alimentar desejos simples. "Compro um lanche para mim, coxinha, pastel", conta.

O trabalho infantil é visto pela família como uma maneira de proteger a menina. "Tem gente que bota criança para pedir na rua", diz a tia.

E mais: pesquisas a que o Repórter Record Investigação teve acesso apontam metais pesados nas águas da lagoa do Mundaú e no sangue dos pescadores. E como o tráfico vem cooptando jovens para o crime. Comunidades inteiras que sobrevivem do marisco estão sob ameaça de organizações criminosas.

 

Você não pode perder o Repórter Record Investigação desta quinta (21), logo depois da novela Gênesis.

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