Ex-detento recomeça a vida com salão de beleza debaixo de viaduto
Uma história de superação e virada de vida. Um ex-detento que vive em Belo Horizonte recebeu o diploma de barbeiro depois de montar um salão de beleza improvisado em baixo do viaduto Santa Tereza, na região Central da capital mineira.
O espaço parece só uma barbearia improvisada, mas a estrutura com poucos objetos e uma cadeira quebrada representa um recomeço para quem já perdeu tanto. Júlio César decidiu se dar uma nova chance.
“Até que eu conseguisse regularizar minha situação, eu tinha que produzir. Aí comecei com essa nova profissão de barbearia e eu adorei. Acho que era isso [ser barbeiro] que eu sempre tinha que ter feito.”
Foram várias passagens pelo sistema carcerário. Ao todo, 17 anos de liberdade restrita. Entre as duas últimas prisões, ele ficou apenas 16 dias na rua.
Sem residência fixa quando saiu da penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, o barbeiro não teve para onde ir. Encaminhado para um albergue, ele ficou com medo de voltar a usar drogas e cometer crimes.
Foi aí que César lembrou de uma função que tinha aprendido há muitos anos na prisão: cortar cabelo e barba. Um barbeiro da região providenciou alguns equipamentos e, sem lugar para começar, achou no viaduto Santa Tereza o espaço ideal.
Yuri Pérez foi o primeiro cliente que cortou o cabelo na navalha. Ele acompanhou o crescimento de quem hoje considera amigo.
“Eu lembro quando ele começou. Era só um poste de luz com um espelho e uma cadeira de plástico.”
Édson Paulino cortou o cabelo com César pela primeira vez. Conheceu a história dele pela internet e foi até o local conferir o trabalho do barbeiro.
“Eu gosto muito de ver que Júlio César só está crescendo. O corte de cabelo dele está aprovado.”
Apoio
Aos poucos, César foi se tornando conhecido e por meio do programa de inclusão de egressos do sistema prisional. Segundo Andreza Abreu, sub secretária de prevenção à criminalidade, ele teve a chance de fazer um curso com um conhecido barbeiro da cidade.
“É importante que ele sirva não só de multiplicador, mas de exemplo para outros egressos que queiram fazer novas escolhas após sair do sistema prisional.”
Foram três meses de curso e, para comemorar, ele recebeu no ambiente de trabalho colegas e clientes para uma formatura simbólica. Recebeu também a filiação no Conselho Nacional dos Profissionais da Beleza.
Do tempo de prisão ele carrega lembranças e a tornozeleira que o monitora 24 horas por dia. César quer ir deixando o passado aos poucos para construir com as mãos um novo caminho.
“Esse primeiro curso que eu fiz, com todo respeito ao meu professor, é muito pouco para mim. Eu quero mais.”
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Crédito da foto: Reprodução/RecordTV Minas