Vigiados 24 horas por dia, juízes ameaçados de morte vivem como prisioneiros

Quarta, 01 de Marco de 2017

Eles são vigiados de perto 24 horas por dia, no trabalho e na própria casa, por homens armados de pistola e fuzil. Estão sob constante ameaça de atentados e emboscadas, sem direito de viver em família como gostariam. São juízes sentenciados de morte pelo crime organizado. Durante seis meses, o Câmera Record que vai ao ar nesta quinta-feira, 02/03, acompanhou a rotina restrita de magistrados marcados para morrer por facções criminosas, grileiros de terra, pistoleiros e políticos poderosos.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 132 magistrados estão protegidos por agentes em todo o País. Alguns deles vivem essa rotina restrita há mais de uma década. 

Na fronteira mais explosiva do Brasil, um magistrado já condenou mais de cem narcotraficantes, confiscou centenas de mansões e carros de luxo e tomou mais de R$ 2 bilhões do crime do crime organizado. Por isso, Odilon de Oliveira é o número 1 da lista de juízes ameaçados de morte e está há 17 anos sob proteção da Polícia Federal.

Após 30 anos no combate ao crime organizado, ele não esconde que já pensa em se aposentar. Mas, por lei, sabe que quando deixar o cargo de juiz também vai perder a proteção. "Se eu for ficar sem segurança, eu vou embora, vou virar as costas pro Brasil, vou embora pro exterior", sentencia o magistrado.

No estado do Rio de Janeiro, cinco magistrados vivem sob proteção. Alexandre Abrahão é presidente do Terceiro Tribunal do Júri da capital há 19 anos. Há 13, anda com escolta. Alexandre já julgou dois dos traficantes mais conhecidos do Rio de Janeiro: Fernandinho Beira Mar e Elias Maluco. O juiz diz que nunca teve de medo de julgar quem quer que fosse. "Esse medo eu não tenho porque nunca me deixei influenciar pelo externo. Tento criar uma relação direta entre o processo e o juiz. Eu sou o juiz e o processo está na minha frente, eu julgo o fato".

Na imensidão do Brasil rural, o juiz Heliomar Rios, de uma pequena comarca no sul do Piauí, desafia grileiros. Ao descobrir que era alvo de pistoleiros, passou a viver trancado num pequeno cômodo de uma pensão sem proteção alguma. Ele foi escoltado por três anos, mas no meio de 2016, por ordem do tribunal, teve que abrir mão dos seguranças. Mesmo contra a própria vontade.

Em Vitória, no Espírito Santo, Carlos Eduardo Lemos há uma década e meia tem todos os seus passos vigiados. "O meu filho já nasceu escoltado, o meu filho de 15 anos. A minha filha começou a ser escoltada aos 3 aninhos... É interessante, chegou uma fase da idade dela, com 4, 5 aninhos que a gente ia viajar e ela sempre falava: ‘Ah, pai, vamos viajar a família inteira, eu, você, mamãe e os polícia’”, desabafa o magistrado.

Mas o que faz o juiz e a família dele manterem a escolta há tanto tempo? Eles aprenderam da pior forma que o crime no Espírito Santo não faz ameaças em vão. "Nosso medo é realmente ser, sofrer algum tipo de atentado como fizeram com um colega que trabalhava comigo: o doutor Alexandre Martins de Castro Filho. Eu também seria um alvo, era um dos alvos programados e, por várias questões, isso não aconteceu".

O programa ainda mostra quem são os agentes dispostos a levar um tiro para proteger estes juízes. A reportagem mostra com exclusividade o treinamento desse homens que não podem falhar.

O Câmera Record será exibido nesta quinta-feira, às 22h45, logo após o Jornal da Record. 

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