Casa no Aglomerado da Serra em BH é indicada no Prêmio Casa do Ano
Uma casa no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, do artista Kdu dos Anjos, foi indicada ao prêmio "Casa do Ano", do ArchDaily, um dos sites de arquitetura mais importantes do mundo. A residência, chamada de Casa no Pomar do Cafezal, está localizada na rua Sustenido, no Beco Jenipapo, dentro do aglomerado.
A construção concorre à categoria "Casas" do prêmio "Construção do Ano 2023", promovido pela ArchDaily, um dos principais sites de arquitetura do mundo. A votação vai até o próximo dia 15 e o anúncio do vencedor acontece no dia 17. Internautas podem votar no projeto carinhosamente chamado de "Barraco do Kdu" por meio deste link. É necessário cadastrar-se no site para votar.
Sobre o projeto
O projeto da construção da casa teve início, segundo Kdu, no ano de 2017. Junto com o arquiteto Fernando Maculan, o artista criou o chamado "Coletivo Levante", que reúne arquitetos, designers, profissionais da engenharia, paisagismo, iluminação, profissionais de moda e estudantes. O coletivo busca incentivar a arquitetura na periferia. A obra da casa foi a segunda realizada pelo coletivo, sendo a primeira o Centro Cultural Lá da Favelinha, centro gerido pelos moradores que reúne vários segmentos da cultura e é responsável pela renda de mais de 70 pessoas. O centro promove eventos, artistas, produtos e palestras.
Em 2018, teve início a obra na casa, que ficou pronta em dezembro de 2020. Já em 2021, o artista se encontrou com o fotógrafo Leonardo Finotti, que já trabalhou com grandes nomes da arquitetura como Oscar Niemeyer, e fez fotos da casa. O fotógrafo, então, reuniu as fotos em um editorial que foi enviado para o mundo inteiro, inclusive o ArchDaily, que realizou diversas postagens sobre a casa em 2022. As postagens com fotos da casa, segundo Kdu, ficaram entre as 10 mais curtidas do ano passado e foi incluída no compilado de 50 principais casas do ano.
Artista foi criticado por querer construir casa em um beco
Nesta segunda-feira (7), Kdu dos Anjos recebeu a notícia de que aquela casa, de 66m2 e construída na maior favela de Minas Gerais, estava concorrendo à casa do ano em um torneio internacional.
Para o artista, a situação está sendo muito divertida e a repercussão na favela não é diferente. "Hoje de manhã eu fui comprar pão e uma criança me parou e perguntou se é verdade que a minha casa é a mais legal do morro", relata.
Kdu dos Anjos contou, ainda, que construiu a casa pois queria sair da casa da mãe, já com quase 30 anos. Durante a obra, o artista disse ter recebido diversos comentários preconeituosos, dizendo que ele estava "jogando dinheiro fora" ao construir em um beco que sequer é asfaltado. A casa, segundo ele, é um lugar de muita festa, onde ele já reuniu cerca de 200 pessoas. Ao todo, o artista gastou R$150 mil na construção da residência.
Além da grande repercussão para o público de dentro da favela, Kdu dos Anjos relatou que o projeto beneficiou também na visão que as pessoas têm dos aglomerados. Segundo ele, a indicação desmistifica a periferia, tirando a ideia de dor e sofrimento e trazendo alegria e possibilidades de produção dentro da periferia. Na questão social, os projetos que ele exerce na favela também fazem muito bem à população, empregando mulheres, pessoas negras e da comunidade LGBTQIA+.
Projetos futuros
O Coletivo Levante, idealizado por Kdu dos Anjos, já tem outros projetos. Além do Centro Cultural Lá da Favelinha e da Casa do Pomar do Cafezal, construídos pelo Coletivo, no futuro, o objetivo é construir uma galeria de arte na favela. A galeria, chamada de "Torre de Bebel", também trará renda para o público da favela, assim como os outros projetos. O nome faz um trocadilho com a "Torre de Babel", história narrada na Bíblia que retratava a construção de uma torre que alcançaria os céus. "O objetivo é reunir todas as linguagens artísticas em um só lugar, sem ser melhor que ninguém", relata o artista.
Crédito da imagem: FOTO/LEONARDO FINOTTI